''Eu sei, há muito tempo não te escrevo. Sua última carta está fechada, não me julgue por não lê-la. Faltou-me coragem. Justo eu, que você sempre dizia achar corajosa. Perdi algumas daquelas minhas manias que você achava insuportável. Queria que você me visse agora, não sei, talvez você gostasse da minha mudança...
Às vezes sabe, me dá uma vontade de te ligar, perguntar como você realmente está, ouvir você reclamar um pouco da vida e cantar aquele trecho da música que ambos gostamos. Vontade de te dizer, me desculpa, não sei pelo o quê, mas me desculpa mesmo assim. Mas no fundo eu sei, isso não vai funcionar, pois não temos o porquê pedir desculpas, a vida simplesmente aconteceu e a gente ficou parado aqui. Você não quis ser a primeira a dar o passo, e eu muito menos.
Mas te confesso, olha, por pouco, muito pouco não saí correndo atrás de você no meio de uma rua quando a gente se encontrou ao acaso. Você deu um sorriso meio sem graça, cumprimentou com a cabeça. Eu fiz o mesmo, mas quando virei as esquina, confesso que chorei. Chorei por você, por mim e pelo fulano que tava passando na rua, sendo que eu nem ao menos o conhecia, mas eu chorei por ele.
Mas também tive vontade de pegar uma pedra no chão e jogar no meio da tua cabeça e de te xingar mil vezes de idiota. Porque com o tempo, me perdoe, mas eu até criei raiva de você sabe. É uma mistura de raiva, saudade e mais um monte de outros sentimentos que eu nem gosto de falar para não atiçar.
Uma semana depois, preparei uma xícara daquele chá que você tanto gostava, fiz seus biscoitos preferidos, coloquei minha melhor roupa, arrumei a casa e esperei por você. Mas daí eu lembrei que você não viria mais. E você realmente não apareceu. Não sei, talvez no fundo eu tivesse a esperança que no último segundo você resolvesse bater na minha porta, já tinha virado rotina, aliás, mais do que rotina, era tradição. Mas você sempre foi de quebrar regras e eu não seria a sua exceção. Por mais que eu quisesse. E olha que eu quis. Tanto, tanto.
De repente você me manda um recado me dizendo algo banal e eu caio em sua armadilha e novamente te espero, mesmo sabendo que no fundo você não vem. Você que gosta de me atiçar, de me provocar e depois me deixa perdida nessa minha vontade de beber dessa tua água.
Sabe, que às vezes eu me pego cantando nossa música, e invento sempre uma desculpa para o chá e biscoitos. Porque a maldita você que habita em mim, não quis sair, pregou na minha pele e ali ficou. E eu infelizmente sei, que pra você eu não passo mais do que uma lembrança boa, ou amena, não sei, de alguma coisa que ficou pra trás, algo distante que você quis deixar na encruzilhada. E eu quis tanto te pedir pra voltar, mas não o farei, peguei esse orgulho de você e com ele permanecerei. E te digo que agora, você irá provar do seu próprio veneno. Pois se pensa que irei atrás, está enganada. Eu te disse que mudei, quem sabe você gostaria da nova eu, e se você quiser mesmo saber, vai ter que correr atrás agora para descobrir, pois depois de tanto tentar e me humilhar por míseras palavras, eu cansei.''
JBW 01/01/2012 17:36
"Cada um tinha um coração. E cada coração amava uma pessoa. O coração de fulano amava beltrano, mas o coração de beltrano amava sicrano. Ou seja, fulano sou eu, beltrano é você e sicrano tem muita sorte." (Caio Augusto Leite)