domingo, 19 de fevereiro de 2012

Uma Paris diferente.

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          ''Paris não é mais a mesma. O ar mudou, o clima mudou, e mais alguma coisa que eu não sei o quê. As pessoas mudaram, talvez. Ou eu mesma que mudei, é provável, sou tão inconstante. 
        Mas é como se eu andasse por ruas e ruas, e nenhum rosto mais me fosse real. Todos rostos de pessoas que eu não sei quem são, pessoas frias, frias. E tão fúteis que me dão náuseas. A verdade é que me cansei de viver nessa cidade que de cor-de-rosa só existe na nossa fantasia. Na verdade, existia sim, não vou ser hipócrita de falar que nunca existiu um quê de diferente nessa cidade. Mas mudou. Assim como àquelas pessoas que dizem que ficam e elas vão. Não adianta, elas vão mesmo.
        Eu sei que sempre que pensamos em Paris, sempre que a citamos, pensamentos bons vem à tona, imagens bonitas de uma torre Eiffel idealizada cheia de paixões, amores correspondidos e todas essas coisas cheias de purpurina que brilham e ofuscam a visão dos olhos alheios. Cansa ver essa felicidade toda explodindo de cada esquina, sendo que no fundo mesmo, o rio Senna está poluído. É a cidade da arte, do cinema. Dá-se uma pincelada nas partes estragadas e tudo vira um arco-iris de felicidade. Coloca-se uma máscara qualquer achada em qualquer lata de lixo de um beco sem saída e finge-se: está tudo bem.
        As pessoas sorriem e tomam seu cafezinho, conversam e comem macarrones de diversas cores. Conversas tolas qualquer, matando o tempo. Encenando uma paisagem de uma cidade maravilhosa que só existe em nossas memórias tolas e fulas. Nem memórias mais. Paris mudou completamente. Agora é uma cidade encenada, uma cidade com outros ares, outras pessoas, que não somos mais nós. Roubaram-a de nós e a fizeram de um palco de encenações com pessoas igualmente teatrais que insistem ser quem não são, falar frases que não são suas e declarações sem emoção. 
       Paris, eu realmente te desconheço. Você com todas essas pessoas se tornou farsa, se tornou algo que eu não quero mais me espelhar, algo que eu não quero mais conhecer. Você com toda essa sua beleza que é de deixar tonto à qualquer um, se tornou tão feia e suja por dentro, que eu sinceramente não sei mais se você merece toda essa glamorosidade que as pessoas te dão. 
       Mas não me leve a mal Paris, não vou descer a lenha em você apenas. Não sou de todo mal assim. Só queria te dizer, que a sinto diferente, não a vejo mais com a mesma graciosidade de outrora. E por mais que eu tenha dito tudo isso sobre sua 'pessoa', tenho que admitir que apesar de tudo, você é encantadoramente linda. E que eu sou perdidamente apaixonada por você. Você com todas essas impurezas e farsas. Você com todos esses macarrones e cafezinhos de esquinas. E apesar de tudo, obrigada por existir.''

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Uma carta para uma cajuína perdida.



    ''Minha pequenina cajuína desse meu tão seco e devastado sertão,

     venho por meio desta, te dizer o que há muito tempo ficou engasgado aqui na minha garganta e se agarrou à minha traqueia porque não queria sair de jeito nenhum. Não queria sair por medo de ter que admitir que eu sou fraquinha, fraquinha, minha cajuína. Mais fraquinha que uma bonequinha de porcelana. Daquelas, cheias de  roupinhas coloridas que geralmente não são mais utilizadas. Foram esquecidas por muitos.
    Mas meus dedos pensam por si só e querem jorrar logo tudo para fora, expor todas as minhas fraquezas. Te dizer que. Sinto a sua falta. Todos os dias. Eu chego em casa e tiro a minha carapaça de boneca de pano que muito aguenta, e me torno eu, verdadeiramente eu. Uma bonequinha de porcelana que chora de saudades suas. É que no meio de tanta gente, eu procurei por um sorriso que não estava ali. Uma carinha de mistério a ser desvendado que se esconde. Uma voz que cantava aos meus ouvidos que já não era mais ouvida.
     Demorou, sabe. Pra ficha cair. Mas quando ela caiu, caiu tão pesada que esmagou meu coração que já estava pequenino, pequenino. Quis te ligar no meio da noite pedindo para você voltar, mas não adiantaria nada. Choraríamos ao telefone e ficaríamos ali, mudas. Mudas porque não há nada o que se dizer. A vida aconteceu e te levou em uma brisa fria. Justo você, que sempre foi uma presença de brisa quente e calma. O mar que você vê, se tornou pequeno para o tanto de lágrimas salgadas que chorei internamente por você. Chorei por fora também.
     Guardei-a em mim e em todas as minhas lembranças. Nas boas. Seus conselhos sopram muitas vezes ao meu ouvido. Tua risada parece surgir de dentro das minhas entranhas e fica ecoando aqui dentro. E às vezes, queria te contar uma história engraçada qualquer, e então te procuro. Mas daí, me lembro que você não está aqui para ouvir, e isso vem feito um soco no estômago. Mas em todo caso, te quero muito bem cajuína. Mesmo você assim, distantezinha assim, pertinho do mar e longinha de mim. Isso foi só um lembrete de nota-amarela-adesiva, pra te lembrar que você faz falta. E muita.''



JBW

sábado, 11 de fevereiro de 2012

There Is A Light That Never Goes Out


        ''Veja bem meu bem, tanto tempo já se passou e cá estamos nós de novo. Caminhos que viveram se cruzando, se empareando, se escondendo... E no entanto, estão lado à lado. Caminhos um tanto quanto diferentes, mas ao mesmo tempo um tanto em comum.
        Com o tempo, a gente acaba percebendo que muitos vão, e poucos são àqueles que ficam. E você foi embora, voltou, fostes novamente mas no fim, ficou. Você permaneceu meu bem, e pegou-lhe o lugar de direito. O lugar que nunca havia deixado de ser seu. Você que há tanto, se tornou uma paz em um abraço caloroso, um porto-seguro em meio à uma tempestade. E é claro que eu mesmo sou a minha própria tempestade. Com todos os meus furacões, raios e vendavais.
         Mas você cuidou de mim e acalmou esse vulcão que está sempre em erupção. Você sorri e o mundo parece ganhar cores. Seus carinhos me deixam com uma sensação de que eu nunca senti tristeza nenhuma nessa vidinha insossa. Sei que isto aqui está um tanto quanto piegas e um tanto quanto pé-no-saco dessa minha repetição de você, você e somente você. Me desculpe a cafonice, mas é que de repente, me deu vontade de falar de você meu benzinho, de falar para você. Falar dessa alegria que você me proporciona todos os dias, falar desse seu jeito que me deixa muitas vezes, sem jeito. Falar de todas essas coisas boas que tu trás para essa pequena-grande carente que sou.
         Te cuida sempre meu bem, qualquer maltrato a ti, atinge muito mais a mim do que se fosse para eu mesma. Cantes no meu ouvido baixinho qualquer cançãozinha de ninar gostosa, deixe-me dormir no seu colinho macio e digas que permanecerás, não importa o tempo que passe ou o grau da escala Richter de meus abalos sísmicos. Apenas diga que tudo ficará bem, que o universo conspira à nosso favor e que ele se encontra logo ali e que nos encontraremos em qualquer futuro ou planeta, não importa. Desde que eu possa sentir essa tua aura e onda de calmaria, tudo ficará perfeitamente bem. Afinal, 'Há Uma Luz Que Nunca Se Apaga', e essa minha luz, é você.''


J.B.W. 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Em estado de Polisipo.

     


       ''Aprendi, lendo Clarice Lispector, muitas coisas. E uma delas foi que a palavra Polisipo - que também é um lugar - em grego significa pausa da dor. E após ler esse significado, fiquei a pensar aonde podemos descansar a nossa dor, aonde podemos dar um break nela.
        É certo que as dores não passam. Elas dão uma pausa momentânea e às vezes voltam antes que a gente pense em apertar o botão de play. A dor age sozinha. Detesta que alguém a comande. O máximo que podemos é adiar por algum tempo que ela nos importune, daí quando você menos espera, ela explode, aparece e permanece. Dizem que o tempo é um remédio para a dor. Eu não acredito muito nisso. Acredito que com o tempo, a gente acumula mais dores, mais preocupações e mais alegrias também, e isso faz com que nossas antigas dores fiquem um pouco esquecidas, mas logo elas retornam, te dizem olá, entram sem permissão, antes mesmo que você possa dizer bem-vinda.
       Mas nossas dores nos ensinam. Ensinam que existem outras piores para enfrentar. Ensinam que a gente deve ser forte e encarar tudo de peito estufado e um sorriso no rosto. Ensinam que o mundo dá volta e de repente tudo pode vir à tona novamente. Ensinam que temos que aproveitar os momentos de Polisipo, já que não é sempre que acontece. Ficaremos então, em estado completamente utópico. É época de aproveitar o que a vida têm a oferecer, é época de dar um sorriso para o que vem dando errado e mandar a tristeza bater em outra freguesia, ou se escafeder, ou o que der na nossa telha, desde que ela vá embora. Desde que ela entre em estado de Polisipo.
       Eu sei, já dizia em Amelie Poulain : 'são tempos difíceis para sonhadores'... Mas qual seria a graça da vida se tudo nos fosse demasiadamente fácil? É preciso aprender a cair da árvore sozinho para poder aprender com seus erros e descobrir como se subir do jeito certo e então chegar ao topo por mérito nosso, e não porque a-filha-do-vizinho-do-tio-do-primo-do-meu-pai me ajudou a chegar lá. Qual seria a vantagem em atravessar o rio de uma margem à outra se alguém tivesse nos levado sem que fizéssemos o mínimo esforço?
      Temos que cair de bicicleta, ralar os joelhos, ralar nossos coraçõezinhos, nos cortar, nos queimar, sofrer nossas dores. Assim, quando tivermos o prazer de acontecer-nos algo tão bom e bonito, poderemos sentir e saborear com prazer, qual é o gostinho da fe-li-ci-da-de.''


JBW   01/02/2012     11:42