''O céu estava mais claro do que costumava ser, a grama estava mais verde e os passarinhos cantavam a mais bela melodia já ouvida. Era primavera. E eu estava sentada na sombra de uma árvore daquela clareira, enquanto lia e admirava. Admirava e lia. Fechei meus olhos por alguns minutos, deixando que a brisa batesse em meu rosto e balançasse meus cabelos.
Deixei o livro momentaneamente de lado, coloquei meu walkman - sim, um walkman mesmo, sou um tanto à moda antiga, um tanto diferente baby, sou uma jovem dos anos 80- e pude relaxar, não pensar em nada, em nada mesmo, deixar a brisa agir por conta própria passando por dentro de mim, brincando com minha alma sorridente.
Acho que cheguei a adormecer por instantes. Não tinha noção da hora e nem queria ter. Não queria mesmo. Era uma sensação leve, um vestido branco e cheiro de lavanda. Foi então que sem que eu percebesse, alguém se sentou do meu lado. E era você. Não sei quanto tempo você ficou ali em silêncio até que eu o notasse. Você estava com as pernas esticadas e com as mãos na nuca, encostado também na árvore - a mesma - mas não encostando em mim. Você tinha uma aparência leve e um sorriso torto - seu charme. Parecia um anjo de cabelos negros. Não pude deixar de sorrir. Você estava mesmo, estupidamente bonito. Sempre mais bonito pessoalmente do que nas minhas lembranças. E eu que já tinha me acostumado com a ideia de que nunca mais. Mentira, eu jamais me acostumaria.
Você abriu os olhos lentamente e esboçou um sorriso de orelha à orelha mostrando suas covinhas que eu tanto lhe dizia e você tanto negava. É sinal de beleza. Você retirou meus fones e disse que eu continuava sendo uma menina estranha. Sempre, eu confirmei. Ainda bem, estava sentindo falta disso, disse-me. Pegou na minha mão e falou repetidas vezes que sentia muito, que sentia muito, muito mesmo, enquanto olhava no fundo de meus olhos sem desviar. Não importa, eu disse, passou, todos sentimos muito. Mas isso não bastava, você queria repetir, como se aquilo lhe tirasse um fardo que estavas a carregar durante muito tempo.
Você estava diferente, os cabelos um tanto quanto mais longos (não tão longos), uma barba rala e mal-feita e um rosto um tanto mais maduro. Já faziam seis anos desde o nosso último encontro e eu não tinha ideia de como você havia me encontrado, o fato era que. Eu estava gostando. E como se lesse os meus pensamentos, você me disse que não tinha se esquecido de meu lugar - quase - secreto. As desculpas eram porque havia demorado muito para voltar, não havia mandado notícias, não havia cumprido suas promessas. Continuei não importando, o que passou já passou, o que deve ficar deve ser o presente, e você estava ali, não estava?
Deitamos na grama, virados um de frente para o outro, as mãos dadas e uma posição - de ambos - quase fetal. Você estava sorrindo aliviado, eu estava sorrindo feliz. As palavras não precisavam serem mais pronunciadas. O silêncio soube preencher todos os nossos espaços, e foi então que eu percebi que podem se passar mil anos, o que é amor, sempre volta.''
J.B.W.
Não tem como ser melhor que isso, amei o texto e parece que eu é que tava lá, vivendo tudo. Completamente perfeito e renderia um ótimo livro em. fica a dica. Beijos sua linda.
ResponderExcluirO título, o texto, tudo, perfeito!!!
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